A escola como espaço para a diversidade
Joel Teles Ribeiro
A voracidade do sistema capitalista desprezou e reduziu valores humanistas à lógica de mercado, com isso causou a ruptura do tecido social e em consequência a perda de identidade e das raízes que compõem o indivíduo.
Copiamos os “modelos” pré-estabelecidos pelos formadores de opinião como os de comportamentos, beleza, orientação sexual e transformamos os que não se enquadram nesses “modelos” em seres humanos de segunda categoria, fazendo-os experimentar a frustração, alienação e o desconforto sem fim.
É preciso favorecer a construção da autonomia, valorizar as diferentes culturas, estimular a solidariedade e o respeito à diversidade, pois a construção do eu se dá a partir do outro. É necessário conviver de modo harmonioso e respeitoso com as diferenças para que se possam favorecer os valores humanos solidários e de cooperação com todos.
“Educar para a diversidade é fazer das diferenças um trunfo, explorá-las na sua riqueza, possibilitar a troca, proceder como grupo, entender que o acontece humano é feito de avanços e limites. E que a busca do novo, do diverso que impulsiona a nossa vida deve nos orientar para a adoção de práticas pedagógicas, sociais e políticas em que as diferenças sejam entendidas como parte de nossa vivencia e não como algo exótico e nem como desvio ou desvantagem”. (GONÇALVES E SILVA, 1996, p. 25).
Uma visão e uma prática pedagógica que veja o outro em sua igualdade e particularidade, não são práticas preconceituosas e também não eleva o outro a um padrão único de comportamento e de experiência. A ideia de “modelos” padronizados dá a entender que as diferenças fogem da normalidade. Esse pensamento produz práticas autoritárias e intolerantes.
A escola é um espaço que, tem a vantagem de tornar possível o encontro entre essas diferenças. Assim sendo, a diversidade deve ser bem vista dentro das escolas, proporcionando novas relações humanas.
O fazer pedagógico da pluralidade é algo composto por diversos elementos. Ele reclama o reconhecimento da diferença e, também, a fixação de padrões de respeito, de ética e a garantia dos direitos sociais. Fortalecer a construção de práticas formais que compreendam o indivíduo e o grupo social, no qual ele está inserido significa romper com a ideia de universalização, uniformidade e homogeneidade, que os tempos modernos trouxeram para dentro das escolas.
Isso nos convida a ultrapassar as fronteiras dos muros escolares e a ressignificar as nossas práticas, rompendo com os valores de representações que temos de outro, principalmente, com aqueles que foram jogados à margem da sociedade.
Por isso, favorecer a diversidade humana nas escolas, não significa apenas lembrar que elas existem, e sim proporcionar uma reflexão mais completa e objetiva sobre as particularidades de cada um e também rever as relações de poder e questionar a nossa visão de democracia. Sendo a democracia um processo de negociação permanente dos conflitos de interesses e ideias. Para que haja essa negociação é preciso o respeito à diferença. Aprender a respeitar a diferença é aprender a ser pluralista, é aprender a viver em uma sociedade heterogênea.
“Assim, minha descoberta da minha própria identidade não significa que a elaboro no isolamento, sim a negocio por diálogo, parcialmente exterior, parcialmente no interior, com os outros. É a razão pela qual o desenvolvimento de um ideal de identidade engendrado interiormente. Minha própria identidade depende virtualmente de minhas relações dialógicas com os outros.” (TAYLOR, 1994, p. 52).
Sabe-se que a identidade é construída e reconstruída pelas relações que mantemos durante toda a existência. Então, a escola não pode deixar a discussão sobre a diversidade de lado, já que dentro delas, existem seres em constante processo de formação. Se quiser ter qualidade na educação tem-se que valorizar a diversidade de raça, gênero entre outras.
A construção da identidade se faz com qualidades culturais, ou seja, ela se qualifica pelo grupo de componentes alcançados pelo indivíduo através da herança cultural.
Nas sociedades modernas, as identidades tendem a serem muito mais confusas, muito menos pré-determinadas, uma vez que o sujeito participa ativamente do seu processo de construção, significando e ressignificando os “eus” (individual e social), que vai sendo incorporado a cada escolha durante toda a existência e essas escolhas não são, contudo, de responsabilidade do indivíduo, mas também das várias relações sociais que esse indivíduo adquire.
Para se entender o cada um é quanto grupo, ou quem é como singular, é preciso o reconhecimento que se é dado pelo outro. “Ninguém pode edificar a sua própria identidade independentemente das identificações que os outros fazem dele”, diz Habermas (1983, p. 22).
“Sou o que o outro não é; não sou o que o outro é.” E a diferença “não é estabelecida de forma isolada e independente. Ela depende de processos de exclusão, de guarda de fronteiras, de estratégias de divisão. A diferença nunca é apenas e puramente diferença, mas também e fundamentalmente hierarquia, valorização e categorização” (SILVA, 1997, p. 25)
A aprovação do outro é uma necessidade do ser humano, já que o homem é um ser que só existe por causa da vida em grupo. A ideia que se faz muitas vezes dos negros é deprimente e humilhante para estes e causa-lhes sofrimento e humilhação, ainda mais por que tais imagens preconceituosas são construídas quase sempre para a legitimação da exclusão social dos grupos discriminados.
A época moderna tem visto um movimento no sentido de valorização da identidade das pessoas, em seus diferentes aspectos, não pretendendo que os homens sejam jogados na vala comum da uniformidade, que muitas vezes encobre situações de discriminação, preconceito e desigualdades.
A recuperação e valorização das identidades é um processo rico e vantajoso, que pode dar às pessoas, mais sentido para suas existências e abrir caminhos para novas conquistas.